São três as partes de que és composto: um pobre corpo, uma tênue alma, a inteligência. Delas, as duas primeiras são tuas, portanto é teu dever cuidar delas; a terceira, só, é a que te constitui propriamente. Consequentemente, se afastares de ti mesmo, ou seja, do teu entendimento, tudo os que os outros fazem ou dizem e tudo que tu mesmo disseste ou fizeste e todas as coisas futuras que te afligem porque podem vir a acontecer, e tudo no pobre corpo que te envolve ou em tua tênue alma, parte de tua natureza que está ligada a ti independentemente de tua vontade, e tudo que o turbilhão exterior atrai em seu vórtice, de tal forma que tua faculdade intelectiva, permanecendo pura e livre, viva voltada para ela mesma, praticando a justiça, aceitando os fatos e dizendo a verdade; se afastares da razão, digo eu, tudo que depende dos sentidos e, quanto ao tempo, o que está por vir e o que passou, e se fizeres de ti mesmo, como diz Empédocles: “Uma esfera perfeita, comprazendo-se em uma solidão circular”. Se procurares viver somente o momento que vives, ou seja, o presente, poderás passar a porção de vida que te resta até a morte imperturbavelmente, sobranceiramente e obediente ao teu Gênio.
Marco Aurélio, in Meditações
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