Velhice
é saudade. Isso explica que haja jovens e mesmo crianças que, tendo
vivido só um punhadinho de anos, já são velhos. É que a saudade
pode florescer já nas manhãs... Percebi, então, que a velhice não
era coisa nova. Ela tinha morado sempre comigo. Eu tinha saudade
sempre, mesmo sem saber do quê. Saudade sem saber do que pode
parecer contrassenso, pois a saudade é sempre saudade de alguma
coisa: de um rosto, de um lugar, de um tempo passado. Você nunca
sentiu isso? Uma saudade inexplicável de algo que não sabe o que é?
A saudade aparece, então, como tristeza no seu estado puro, sem
objeto. Quando você sentir isso, não se aflija. É que os seus
olhos estão andando pelos bosques misteriosos onde nasce a poesia.
São os bosques da saudade. Todos os poetas já nascem velhos.
Rubem
Alves, in Do universo à jabuticaba
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