quinta-feira, 30 de junho de 2022

Asa branca | Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, 1947


Maior sucesso do Rei do Baião e um dos nossos “hinos nacionais populares”, “Asa branca” foi composta por Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, em 1947, a partir de um tema folclórico que o sanfoneiro conhecia desde a infância. Após uma década e meia longe, Luiz Gonzaga (1912-1989) tinha visitado a cidade de Exu, no sertão pernambucano, onde nasceu, e, ao retornar ao Rio, mostrou ao parceiro a canção. Teixeira mexeu em alguns versos, acrescentou outros, consolidando o lirismo e as fortes imagens da seca que castigava sem tréguas a região e forçava a imigração de seu povo para o Sul. Em ritmo de toada, a música tocou fundo no coração dos brasileiros. Além das muitas gravações de Gonzaga, foi adotada por intérpretes de diferentes estilos e gerações, ganhou até versões sinfônicas, virando um hino do Nordeste e de sua gente.
Radicado no Rio de Janeiro desde 1940, Gonzagão sobrevivia a duras penas, tocando valsas, polcas, tangos, foxtrotes e boleros em bares da zona de prostituição. Na época, os ritmos nordestinos que tinham feito tanto sucesso nas duas primeiras décadas do século XX estavam relegados à sua região, eram vistos como cafonas no Sudeste brasileiro. Até que, uma noite, atendendo aos pedidos de um grupo de estudantes nordestinos de passagem pela então capital federal, Gonzaga voltou aos sons de pé de serra que seu pai Januário tocava. Para sua surpresa, conseguiu empolgar a plateia e percebeu que aquele diferencial era um filão a ser explorado. Já em 1941 compôs os chamegos “Pé de serra” e “Vira e mexe” – tendo, este último, lhe rendido o primeiro prêmio no programa de calouros de Ary Barroso e um contrato para gravar na RCA Victor.
Nos anos seguintes, com seu repertório de chamegos, xotes e baiões, adotou um visual próprio, com roupas de couro, adereços de boiadeiro e chapéu de cangaceiro, que, segundo um de seus fãs, Gilberto Gil, fez dele o primeiro popstar brasileiro. Essa metamorfose se completou em fins de 1945, quando conheceu o seu principal letrista, o advogado cearense Humberto Teixeira (1915-1979). No ano seguinte, a dupla fez “Baião”, lançada pelo grupo vocal Quatro Ases e Um Coringa, com Gonzagão tocando sanfona. A canção popularizou um ritmo e uma dança que faziam sucesso no Nordeste desde o fim do século XIX. O Brasil inteiro aprendeu como se dança o baião, e Luiz Gonzaga virou rei de vez em 1947, nas asas de “Asa branca”.

Nélson Motta, in 101 canções que tocaram o Brasil

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