quinta-feira, 23 de setembro de 2021

Dia 11 de Novembro

Hoje eu me sentei na sala do Diretor, apontei vinte e três lápis para ele, e para ela – para Sua Excelência, Ela – apontei mais quatro.
O Diretor gosta de ver muitos lápis sobre a sua mesa. Que cabeça ele deve ter! Ele continuamente se envolve em silêncio, mas eu não acho que o menor detalhe lhe escape. Eu gostaria de saber o que ele pensa, o que lhe passa pelo cérebro; eu gostaria de conhecer todas as maneiras desses cavalheiros, e ter uma vista de perto da arte da astúcia na Corte, e todas as atividades desses círculos. Eu já pensei em perguntar para Sua Excelência algumas vezes; mas – Deus sabe o porquê – toda as vezes minha língua me falhou e eu não consegui nada além do relatório meteorológico.
Eu gostaria de dar uma olhada no gabinete do qual eu tanto vejo a porta se abrir. E um segundo aposento após o gabinete atiça a minha curiosidade. Que mobília esplêndida; que qualidade de espelhos e que escolha de porcelanas contém! Eu também gostaria de ver os aposentos que Sua Excelência, a filha, reside. Eu gostaria de ver como todos os vidros de perfume e caixas estão arrumados em seu vestíbulo, e as flores que exalam um perfume tão delicioso que me dariam receio de respirar. E as roupas dela caídas pelo lugar, que são tão etéreas que mal podem ser chamadas de roupas-mas silêncio!
Hoje me ocorreu o que pareceu uma inspiração divina. Eu me lembrei da conversa entre os dois cachorros que eu ouvi na Alameda
Nevsky. “Muito bem” eu pensei; “agora eu vejo claramente. Eu preciso obter a correspondência que aquelas cadelinhas trocaram entre si. Nela eu devo obter muitas explicações”.
Eu já tinha chamado a Meggy e dito para ela “Ouça, Meggy! Agora nós estamos sós, juntos; se você quiser, eu posso fechar a porta para que ninguém nos veja. Agora me conte tudo que você sabe sobre a sua dona. Eu juro para você que não contarei a ninguém.”
Mas a cadela astuta agitou a sua cauda no ar e andou em silêncio até a porta, como se não tivesse me ouvido.
Eu já era há tempos da opinião de que cães são mais espertos do que homens. Eu também acreditava que eles podiam falar, e que apenas uma certa obstinação os impedia. Eles são animais especialmente vigilantes e nada lhes escapa à observação. Agora, custe o que custar, amanhã eu vou ao prédio do Sverkoff para questionar a Fidel, e se eu tiver sorte, obter as cartas que a Meggy lhe escreveu.

Nikolai Gogol, in Diário de um louco

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