O
jardineiro conversava com as flores, e elas se habituaram ao diálogo.
Passava manhãs contando coisas a uma cravina ou escutando o que lhe
confiava um gerânio. O girassol não ia muito com sua cara, ou
porque não fosse homem bonito, ou porque os girassóis são
orgulhosos de natureza.
Em
vão o jardineiro tentava captar-lhe as graças, pois o girassol
chegava a voltar-se contra a luz para não ver o rosto que lhe
sorria. Era uma situação bastante embaraçosa, que as outras flores
não comentavam. Nunca, entretanto, o jardineiro deixou de regar o pé
de girassol e de renovar-lhe a terra, na ocasião devida.
O
dono do jardim achou que seu empregado perdia muito tempo parado
diante dos canteiros, aparentemente não fazendo coisa alguma. E
mandou-o embora, depois de assinar a carteira de trabalho.
Depois
que o jardineiro saiu, as flores ficaram tristes e censuravam-se
porque não tinham induzido o girassol a mudar de atitude. A mais
triste de todas era o girassol, que não se conformava com a ausência
do homem. “Você o tratava mal, agora está arrependido?” “Não”,
respondeu, “estou triste porque agora não posso tratá-lo mal. É
a minha maneira de amar, ele sabia disso, e gostava.”
Carlos
Drummond de Andrade, in Contos plausíveis
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