Tom
caminhou por entre os salgueiros, procurou um lugar sombreado e
deitou-se. E Noah foi atrás dele.
— Vou
dormir — disse Tom.
— Tom!
— Hem?
— Tom,
eu não quero mais ir com vocês.
Tom
sentou-se.
— Que
é que ocê tá dizendo?
— Tom,
eu não vou deixar este rio aqui. Vou descer pelas margens dele.
— Cê
tá maluco! — disse Tom.
— Vou
arranjar linha e anzol e vou pescando. Perto de um rio ninguém morre
de fome.
— E
a família? E a mãe? — Tom quis saber.
— Está
além das minhas forças. Não posso deixar esse rio. — Os olhos
grandes de Noah estavam semicerrados. — Cê sabe como é, Tom. Cê
sabe que todo mundo me trata muito bem. Mas a verdade é que ninguém
se importa comigo.
— Ih,
cê tá é maluco, mesmo.
— Não,
Tom. Eu sei como eu sou. Sei que eles vão ficar tristes, talvez.
Mas... bom, eu não vou. Cê diz à mãe, tá bem, Tom?
— Olha
aqui — começou Tom.
— Não
adianta falar. Me meti nesse rio e não vou sair daqui. Vou descer o
rio, Tom. Posso pegar peixe. Não vou deixar o rio. Não posso! —
Foi se afastando lentamente. — Cê diz à mãe, Tom. — E
afastou-se.
Tom
seguiu-o até a beira do rio.
— Escuta,
seu grandessíssimo idiota...
— Não
vale a pena — disse Noah. — É difícil pra mim fazer isso, mas
tem que ser assim. Preciso ir, e acabou-se. — Voltou-se
abruptamente e seguiu rio abaixo, pela praia. Tom quis segui-lo
ainda, depois resolveu desistir. Viu Noah desaparecer entre os
arbustos e depois tornar a surgir, seguindo a margem do rio. E viu
Noah diminuindo de tamanho pouco pouco, até sumir-se de vez entre os
salgueiros. Tom tirou o boné e coçou a cabeça. Voltou ao lugar que
tinha escolhido e deitou-se para dormir.
John
Steinbeck, in As vinhas da ira
Nenhum comentário:
Postar um comentário