Lavadeiras às margens do Rio Mossoró, 1962 (Sem autoria)
As
lavadeiras de Mossoró, cada uma tem sua pedra no rio; cada pedra é
herança de família, passando de mãe a filha, de filha a neta, como
vão passando as águas no tempo. As pedras têm um polimento que
revela a ação de muitos dias e muitas lavadeiras. Servem de espelho
a suas donas. E suas formas diferentes também correspondem de certo
modo à figura física de quem as usa. Umas são arredondadas e
cheias, aquelas magras e angulosas, e todas têm ar próprio, que não
se presta à confusão.
A
lavadeira e a pedra formam um ente especial, que se divide e se
unifica ao sabor do trabalho. Se a mulher entoa uma canção,
percebe-se que a pedra a acompanha em surdina. Outras vezes, parece
que o canto murmurante vem da pedra, e a lavadeira lhe dá volume e
desenvolvimento.
Na
pobreza natural das lavadeiras, as pedras são uma fortuna, joias que
elas não precisam levar para casa. Ninguém as rouba, nem elas, de
tão fiéis, se deixariam seduzir por estranhos.
Carlos
Drummond de Andrade, in Contos plausíveis
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