A
história da vida de Ivan Ilitch foi das mais simples, das mais
comuns e portanto das mais terríveis.
Era
membro do Tribunal de Justiça e morreu aos quarenta e cinco anos.
Filho de um oficial cuja carreira em Petersburgo em vários
ministérios e departamentos era daquelas que conduzem as pessoas a
postos dos quais, em razão de seu longo tempo de serviço e da
posição alcançada, não podem ser demitidas – embora seja óbvio
que não possuem o menor talento para qualquer tarefa útil –,
pessoas para as quais cargos são especialmente criados, os quais,
embora fictícios, pagam salários que nada têm de fictícios e dos
quais eles continuam vivendo o resto da vida.
Era
o caso do conselheiro particular Ilya Yefimovich Golovin, membro
totalmente supérfluo de uma das tantas instituições também
supérfluas.
Tinha
três filhos, dos quais Ivan Ilitch era o segundo. O mais velho
estava seguindo os passos do pai, só que em outro ministério, e já
se aproximava daquele estágio no serviço público em que a inércia
é recompensada com a estabilidade. O terceiro filho era um fracasso.
Jogara fora todas as suas chances em vários postos e agora estava
empregado no departamento de estradas. Seu pai, seus irmãos e
principalmente as esposas destes não apenas não gostavam de
encontrá-lo, como evitavam sequer lembrar de sua existência, a não
ser quando forçados a isso. Sua irmã casara com o Barão Greff, um
oficial de Petersburgo da mesma classe do sogro.
Leon
Tolstói, in A morte de Ivan
Ilitch
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