sábado, 21 de junho de 2025

Palavra

Há quem receite a palavra ao ponto de osso, de oco
ao ponto de ninguém e de nuvem.
Sou mais a palavra com febre, decaída, fodida, na
sarjeta.
Sou mais a palavra ao ponto de entulho.
Amo arrastar algumas no caco de vidro, envergá-las
pro chão, corrompê-las
até que padeçam de mim e me sujem de branco.
Sonho exercer com elas o ofício de criado:
usá-las como quem usa brincos.

Manoel de Barros, em Meu quintal é maior do que o mundo

Nenhum comentário:

Postar um comentário