segunda-feira, 2 de setembro de 2024

A Contadora de Filmes | [34]

E assim continuamos morando no povoado e ocupando a mesma casa, agora entregue ao meu irmão mais velho. Naquele ano saí da escola e passei a ser a dona da casa.
Além de fazer as camas e lavar os pratos, tive que aprender a cozinhar e a lavar roupa.
De tarde continuava contando filmes.
Quando estava quase fazendo catorze anos, a mesma idade da minha mãe ao ter seu primeiro filho, me fiz amante do senhor administrador. Mas durante o tempo entre a morte de meu pai e a chegada dos meus catorze anos, ocorreu uma série de acontecimentos na minha vida, um rosário de circunstâncias nefastas que foram me levando irremediavelmente para os braços do gringo.
Um gringo velho e avermelhado, de “assinatrados” olhos azuis, que fazia tempo andava “arrastando a asa para o meu lado”, como dizia meu pai sobre os homens que ele achava que andavam atrás de mamãe.
Isso de “assinatrados olhos azuis”, vocês sabem, é por causa de Frank Sinatra, outro de meus atores favoritos.

Hernán Rivera Letelier, em A Contadora de Filmes

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