Vida
toda linguagem,
frase
perfeita sempre, talvez verso,
geralmente
sem qualquer adjetivo,
coluna
sem ornamento, geralmente partida.
Vida
toda linguagem
há
entretanto um verbo, um verbo sempre, e um nome
aqui,
ali, assegurando a perfeição
eterna
do período, talvez verso,
talvez
interjetivo, verso, verso.
Vida
toda linguagem,
feto
sugando em língua compassiva
o
sangue que criança espalhará — oh metáfora ativa!
leite
jorrado em fonte adolescente,
sêmen
de homens maduros, verbo, verbo.
Vida
toda linguagem,
bem
o conhecem velhos que repetem,
contra
negras janelas, cintilantes imagens
que
lhes estrelam turvas trajetórias.
Vida
toda linguagem —
como
todos sabemos
conjugar
esses verbos, nomear
esses
nomes:
amar,
fazer, destruir,
homem,
mulher e besta, diabo e anjo
e
deus talvez, e nada.
Vida
toda linguagem,
vida
sempre perfeita,
imperfeitos
somente os vocábulos mortos
com
que um homem jovem, nos terraços do inverno, contra a chuva,
tenta
fazê-la eterna — como se lhe faltasse
outra,
imortal sintaxe
à
vida que é perfeita
língua
eterna.
Mário Faustino, em O homem e sua hora
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