Diz
que um leão enorme ia andando chateado, não muito rei dos animais,
porque tinha acabado de brigar com a mulher e esta lhe dissera poucas
e boas.
Eis
que, subitamente, o leão defronta com um pequeno rato, o ratinho
mais menor que ele já tinha visto. Pisou-lhe a cauda e, enquanto o
rato forçava inutilmente pra escapar, o leão gritava: “Miserável
criatura, estúpida, ínfima, vil, torpe: não conheço na criação
nada mais insignificante e nojento. Vou te deixar com vida apenas
para que você possa sofrer toda a humilhação do que lhe disse,
você, desgraçado, inferior, mesquinho, rato!” E soltou-o.
O
rato correu o mais que pode, mas, quando já estava a salvo, gritou
pro leão: “Será que V. Excelência poderia escrever isso pra mim?
Vou me encontrar com uma lesma que eu conheço e quero repetir isso
pra ela com as mesmas palavras!”
MORAL:
Ninguém é tão sempre inferior.
SUBMORAL:
Nem tão nunca superior, por falar nisso
Millôr Fernandes, em Fábulas Fabulosas
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