segunda-feira, 5 de agosto de 2024

A Contadora de Filmes | [30]

De tarde, fui ao cinema como sempre. Depois, em casa, contei o filme rapidamente e sem nenhum entusiasmo. Disse que estava com dor de cabeça. Ainda bem que havia quase só crianças, e as reclamações foram poucas. Depois levei meu irmão mais velho para o pátio e, sentados num dormente, contei o que tinha acontecido.
Para minha própria surpresa, contei sem chorar. Estava embargada de uma rara serenidade que me mantinha flutuando no ar. Ele me ouviu o tempo todo em silêncio.
Não pronunciou uma única palavra.
Quase não pestanejou.
No final – presa de um vago sentimento de culpa – fiquei com a sensação de que não devia ter contado nada.

Hernán Rivera Letelier, em A Contadora de Filmes

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