domingo, 5 de maio de 2024

A implosão da mentira | 4

Tanta mentira assim industriada
me fez partir para o deserto
penitente/mente, ou me exilar
com Mozart musical/mente em harpa
se oboés, como um solista vegetal
que sorve a vida indiferente.

Penso nos animais que nunca mentem,
mesmo se têm um caçador à sua frente.
Penso nos pássaros
cuja verdade do canto nos toca
matinalmente.
Penso nas flores
cuja verdade das cores escorre no mel
silvestremente.
Penso no sol que morre diariamente
jorrando luz, embora
tenha a noite pela frente.

Affonso Romano de Sant’Anna, in A implosão da mentira e outros poemas

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