segunda-feira, 6 de maio de 2024

1533 – Riobamba

Alvarado

Faz meio ano, as naves desembarcaram em Puerto Viejo.
Chamado pelas promessas de um reino virgem, Pedro de Alvarado tinha saído da Guatemala. Era seguido por quinhentos espanhóis e dois mil escravos índios e negros. Os mensageiros disseram:
O poder que te espera humilha o que conheces. Ao norte de Tumbes, multiplicarás a fama e a riqueza. Do sul, Pizarro e Almagro já são donos, mas o fabuloso reino de Quito não pertence a ninguém.
Nas aldeias da costa, encontraram ouro, prata e esmeraldas. Carregados de rápidas fortunas, empreenderam marcha rumo à cordilheira. Atravessaram a selva, os pântanos, as febres que matam em um dia ou deixam louco, e as aterradoras chuvas de cinzas de vulcão. Nos páramos dos Andes, os ventos afiados e as tormentas de neve despedaçaram os corpos dos escravos, ignorantes do frio, e os ossos de muitos espanhóis se incorporaram à montanha. Ficaram gelados para sempre os soldados que desceram para apertar os arreios dos cavalos. Os tesouros foram arrojados ao fundo dos abismos: Alvarado oferecia ouro e os soldados clamavam por comida e abrigo. Queimados os olhos pelos resplendedores da neve, Alvarado continuou avançando, aos trambolhos, e a golpes de espada ia cortando cabeças de escravos que caíam e de soldados que se arrependiam.
Quase defuntos, músculos de gelo, congelado sangue, os mais duros conseguiram chegar ao altiplano. Hoje alcançam, finalmente, o caminho real dos incas, o que conduz a Quito, ao paraíso. Nem bem chegam, descobrem no barro as marcas frescas das ferraduras dos cavalos. O capitão Benalcázar chegou primeiro.

Eduardo Galeano, in Os Nascimentos

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