sexta-feira, 29 de setembro de 2023

Fullgás | Marina Lima e Antonio Cícero, 1984



O Brasil fervia em 1984, assolado por uma crise econômica sem precedentes, mas empolgado com a perspectiva do fim da ditadura. A campanha das Diretas Já arrebatava o país unindo políticos, artistas e intelectuais no mesmo palco e arrastando multidões às praças. Havia muita esperança no ar com o sonhado fim da ditadura e o exercício da plena liberdade criativa, em que o civismo se misturava ao romantismo, como em “Fullgás”.
Esse também foi um ano de vigorosa produção musical. Do já comentado hino sarcástico das Diretas “Inútil” a canções políticas agressivas como “Podres poderes”, de Caetano Veloso, passando por belas baladas românticas como “Fogueira”, de Angela Ro Ro, e “Me chama”, de Lobão. Abraçando esses extremos estava outro sucesso que permaneceu, “Fullgás”, da carioca Marina Lima e seu irmão, o poeta e filósofo Antonio Cícero. É um rock leve e elegante, com tempero jazzístico, que integra o sabor brasileiro ao pop internacional, funde o político ao amoroso e expressa o momento de esperança do Brasil. Seu verso de encerramento fez história, unindo o sentimento coletivo e o individual: “Você me abre seus braços / e a gente faz um país.”
Com o neologismo “Fullgás”, Marina e Cícero integram os sentidos de “a todo vapor” e da fugacidade do tempo e dos sentimentos. A canção deu nome e foi o grande sucesso do quinto disco da cantora e compositora, estabelecendo-a como autora de grande personalidade e estilo, como voz das mulheres de sua geração. Após cinco anos de carreira, o pop melodioso, o fraseado musical fluente e elegante, as letras sonoras e elaboradas de Antonio Cícero e uma atmosfera sensual criada pelos arranjos sofisticados e pela voz quente de Marina conquistavam o grande público.

Nelson Motta, 101 canções que tocaram o Brasil 

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