Como
se eu procurasse não aproveitar a vida imediata, mas sim a mais
profunda, o que me dá dois modos de ser: em vida, observo muito, sou
ativa nas observações, tenho o senso do ridículo, do bom humor, da
ironia, e tomo um partido. Escrevendo, tenho observações por assim
dizer passivas, tão interiores que se escrevem ao mesmo tempo em que
são sentidas, quase sem o que se chama de processo. É por isso que
no escrever eu não escolho, não posso me multiplicar em mil, me
sinto fatal a despeito de mim.
Clarice Lispector, in Todas as crônicas
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