terça-feira, 18 de outubro de 2022

O sol nascerá | Cartola e Elton Medeiros, 1964


Sucesso espetacular com Nara Leão em seu álbum de estreia (Elenco, 1964), marca a volta de Cartola à vida musical, depois de um começo vitorioso entre os bambas do samba seguido de anos de ostracismo e alcoolismo, até ser redescoberto pelo cronista Sérgio Porto lavando carros em Copacabana e ter suas músicas gravadas por Nara.
O sol nascerá” nasceu dois anos antes, durante uma noitada na casa de Cartola, quando o jovem Elton Medeiros aceitou o desafio de seu mestre para criar uma música na hora. E em pouco tempo os dois fizeram este samba arrebatador, dividindo tanto a música quanto a letra.
Angenor de Oliveira nasceu em 1908 e, com 11 anos, se mudou com a família para o Morro da Mangueira, onde, em 1928, ajudou a fundar a Estação Primeira. Além de ter sugerido o nome da escola, foi Cartola quem escolheu o verde e o rosa como as suas cores. Logo seus sambas desceram para o asfalto. Amigo e parceiro de Noel Rosa, nos anos 1930 teve músicas gravadas pelos maiores intérpretes da época, como Sílvio Caldas, Francisco Alves, Mário Reis e Carmen Miranda. Em 1940, esteve entre os compositores populares que Heitor Villa-Lobos levou até o maestro Leopold Stokowski, em um estúdio montado num navio ancorado na Praça Mauá, onde fez uma série de gravações depois lançadas em disco nos Estados Unidos.
Pouco depois, devastado por uma desilusão amorosa, Cartola sumiu dos bares e dos estúdios das rádios onde mostrava suas músicas e mergulhou no álcool e no abandono. Durante anos, ninguém ouviu falar dele.
No início dos anos 1960, resgatado do alcoolismo pelo amor e a dedicação de Dona Zica, o sol voltava a nascer para Cartola com a gravação de Nara, que marcava o começo da fase mais produtiva e bem-sucedida de sua carreira.
Com sua mensagem de esperança, o samba apostava na alegria e no novo dia como um elixir musical para todas as horas. Mas quando foi lançado, logo após o golpe militar de 1964, a letra também foi ouvida como uma metáfora política contra a ditadura, como nos versos “finda a tempestade / o sol nascerá”.
Além de Nara, “O sol nascerá” ganhou mais quatro versões, entre elas uma do próprio Cartola em seu primeiro disco, um compacto duplo (com quatro faixas) lançado pela gravadora Mocambo, sem qualquer repercussão.
Em 1974, já com 66 anos, Cartola gravou em seu primeiro álbum solo (Discos Marcus Pereira) uma magistral versão de “O sol nascerá”, com a voz já curtida por décadas de álcool, tabaco e afins, dando intensa dramaticidade à receita para quem pretende levar a vida sorrindo.

Nelson Motta, in 101 canções que tocaram o Brasil

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