domingo, 22 de maio de 2022

Em navios com cabines no mar

Em navios com cabines no mar,
O infinito azul se expandindo por toda parte,
Com ventos sussurrantes e música das ondas, das grandes ondas imperiosas,
Ou algum brigue solitário animado na densa marinha,

Onde alegre fervoroso, içando velas brancas,
Ele rompe o éter entre a faísca e a espuma do dia, ou sob muita estrela à noite,
Por marinheiros jovens e velhos quiçá serei, uma reminiscência da terra, lido,
Em completa afinidade afinal.

Eis nossos pensamentos, pensamentos de viajantes,
Aqui a terra, terra firme, não aparece só, possa então por eles ser dito,
O céu arqueia aqui, sentimos o ondulante convés sob nossos pés,
Sentimos a longa pulsação, fluxo e refluxo do impulso infinito,

Os tons de mistério oculto, as vagas e vastas sugestões do mundo salgado, as sílabas líquido-fluentes,
O perfume, o tênue ranger do cordame, o ritmo melancólico,
A visão ilimitada e o distante e escuro horizonte estão aqui,
E este é o poema do oceano.

Então não vacila
Oh livro, cumpre teu destino,
Tu não só uma reminiscência da terra,
Tu também como um brigue solitário rompendo o éter, tencionado não se sabe aonde, porém sempre fervoroso,

Associa-te a todo navio que veleje, veleja!
Leva a eles incluso meu amor,
(Queridos marinheiros, para vós o incluo aqui em cada folha;)
Acelera meu livro!
Iça tuas velas brancas meu pequeno brigue contra as ondas imperiosas,
Canta, veleja, leva sobre o azul infinito de mim a todo mar,
Esta canção para marinheiros e todos seus navios.

Walt Whitman, in Folhas de Relva

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