domingo, 2 de agosto de 2020

Igual ao promontório

Ser igual ao promontório, contra o qual as ondas incessantemente quebram-se; mas ele permanece firme e doma a fúria da água em torno dele. “Sou infeliz, porque isso me aconteceu.” De forma nenhuma! Antes: “Sou feliz, porque isso me aconteceu mas continuo livre de sofrimentos e não me sinto esmagado pelo presente nem temeroso do futuro.” Pois, tal coisa poderia ter acontecido a qualquer um, mas nem todos teriam continuado livres de sofrimento em circunstâncias tais. Por que, então, isso é uma desventura e não uma ventura? Em suma, chamas uma desventura para o homem o que não é uma aberração à natureza humana? E uma coisa te parece uma aberração à natureza se não é contrária aos desígnios da natureza humana? Como então? Conheces os desígnios da natureza; o que aconteceu te impediria de ser justo, magnânimo, comedido, sensato, prudente, leal, discreto, livre, e outras coisas que, por sua presença, dão à natureza do homem sua feição própria? Lembra-te, também, em qualquer circunstância que possa afligir-te, de aplicar este princípio: isso não é uma desventura, mas resistir nobremente é uma ventura.
Marco Aurélio, in Meditações

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