“De
todas as características que são vulgares na natureza humana a
inveja é a mais desgraçada; o invejoso não só deseja provocar o
infortúnio e o provoca sempre que o pode fazer impunemente, como
também se torna infeliz por causa da sua inveja. Em vez de sentir
prazer com o que possui, sofre com o que os outros têm. Se puder,
priva os outros das suas vantagens, o que para ele é tão desejável
como assegurar as mesmas vantagens para si próprio. Se uma tal
paixão toma proporções desmedidas, torna-se fatal a todo o mérito
e mesmo ao exercício do talento mais excepcional.
Por
que é que o médico deve ir ver os seus doentes de automóvel quando
o operário vai para o seu trabalho a pé? Por que é que o
investigador científico pode passar os dias num quarto aquecido,
quando os outros têm de expor-se à inclemência dos elementos? Por
que é que um homem que possui algum talento raro de grande
importância para o mundo deve ser dispensado do penoso trabalho
doméstico? Para tais perguntas a inveja não encontra resposta.
Afortunadamente, porém, há na natureza humana um sentimento
compensador, chamado admiração. Todos os que desejam aumentar a
felicidade humana devem procurar aumentar a admiração e diminuir a
inveja.”
Bertrand
Russell, in A Conquista da Felicidade
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