Marcha
à ré rumo ao caos inicial, retorno à confusão primordial, ao
redemoinho original! Lancemo-nos rumo ao turbilhão anterior à
aparição das formas. Que nossos sentidos palpitem neste esforço,
nesta demência, nestes surtos e abismos! Que desapareça tudo o que
é, a fim de que, nesta confusão e neste desequilíbrio, acessemos
plenamente à vertigem total, retornando dos cosmos ao caos, da
natureza à indivisão original, da forma ao turbilhão. A
desintegração do mundo segue um processo contrário ao da evolução:
um apocalipse inverso, mas brotando das mesmas aspirações. Ninguém
deseja o retorno ao caos, a menos que já tenha sido plenamente
submetido às vertigens do apocalipse.
Quão
grandes são meu terror e minha alegria quando penso em ser
arrebatado pelo tumulto do caos inicial, por sua confusão e sua
geometria paradoxal - a única geometria caótica, sem excelência de
forma nem de sentido.
A
vertigem, enquanto isto, aspira à forma, e o caos mantém suas
virtualidades cósmicas. Eu adoraria viver neste começo de mundo, no
vórtex demoníaco das turbulências primordiais. Que nada do que, em
mim, é veleidade da forma se realize; que tudo vibre de um
estremecimento primitivo, como um despertar do vazio.
Eu
posso viver apenas num começo ou num fim de mundo.
Emil
Cioran, in Nos cumes do desespero
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