quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

O homem que devia entregar a carta

Era sua primeira missão como office-boy. Estava com vinte anos, mas não tinha conseguido outro emprego. Apesar dos jornais garantirem que não havia crise, ele batera o nariz em dezenas de portas e tinha enfrentado filas de doze quilômetros. O patrão pediu que ele entregasse uma carta, com protocolo. Avisou: a pessoa que receber precisa assinar esse papelzinho. Só entregue ao destinatário, a ninguém mais. Essa carta é da maior importância.
Foi. Ao chegar, verificou o endereço: era um terreno baldio. Comparou, indagou. Não havia engano mesmo. O número correspondia ao terreno. Voltou ao patrão, contou.
O patrão:
Eu sei que é um terreno. Mas vão construir um prédio ali.
E o que faço?
Você entrega a carta, como mandei.
O patrão, homem ocupado, dispensou o boy. Ele voltou ao local. Nada. Um terreno sujo, cheio de mato. O que fazer? Sentou-se, pensando que se alguém chegasse por ali, poderia dar uma informação. No fim do dia, foi embora.
Na manhã seguinte, ao subir no elevador, encontrou o patrão.
Como é, entregou a carta?
Não tem prédio lá.
Mas vão construir. Já conseguiram o financiamento da Caixa Econômica.
O boy voltou ao terreno. Naqueles e nos dias seguintes. Nas semanas e meses. O patrão, inquieto, querendo saber da carta, o boy mais inquieto ainda, já sem saber por que não construíam logo o edifício. Um dia, viu homens carpindo o mato. No outro dia, ergueram um tapume. Em seguida, instalaram placas. Vieram tratores e máquinas. Cavaram, cavaram, caminhões basculantes levaram a terra, chegou cimento, aço, pedras. As fundações ficaram prontas.
O boy ali, todos os dias, firme. Fazendo amizade com os operários, capatazes da obra, aprendendo como se mistura o cimento, como se processa a concretagem, acompanhando os andares que subiam, as lajes sendo terminadas.
O prédio subiu. A esta altura o patrão, irritadíssimo com o boy, ameaçava despedi-lo.
Que porcaria você é! Nem consegue entregar uma carta!
O boy, ferido no orgulho, plantou-se então, dia e noite, sentado num dos andaimes. Amigo de todos os operários, comia e bebia com eles, contava casos, ouvia histórias do Nordeste, lendas da Bahia, conhecia a miséria que ia pelo interior, os dramas de fome e doença, o abandono, a seca. A parte mais demorada, lenta. Colocar portas, janelas, armários, rebocar, passar massa corrida, pintar, instalar pias, torneiras, vasos, tacos. Então, a festa de inauguração, chope. As faixas, os corretores ansiosos por enganar alguém com as compras maravilhosas que terminavam em pesadelo.
As pessoas começaram a se mudar. Todos os dias, o boy batia à porta do apartamento 114. O destinatário ainda não tinha se mudado. Agora, o boy já tinha feito vinte e três anos e o patrão tinha lhe dado um prazo fatal, irreversível. Ou entregava a carta, ou era despedido.
Ele batia à porta, ninguém atendia. Até que um caminhão trouxe mudança para o 114. Mas a porta continuava fechada, muda.
Batia, e nada.
Uma tarde, abriram. Um senhor grisalho, ar sonolento. O boy, triunfante, estendeu a carta. O homem olhou o destinatário.
Não sou eu. Nem sei quem é.
Como? O senhor comprou o apartamento de alguém?
Não. Comprei na planta. Não teve nenhum dono antes de mim.
O que faço?
Passa na portaria, fala com o zelador.
O boy passou, explicou a situação. O zelador apanhou um carimbo, bateu no envelope: DESTINATÁRIO DESCONHECIDO.
Devolveu a carta ao boy.
Ignácio de Loyola Brandão, in Cadeiras proibidas

14 comentários:

  1. a nem mano, ele esperou tanto tempo e o destinatario é desconhecido,
    assim nn da man.

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  2. Putz ele esperou 3 anos para nada kkkk

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    1. ele pelo menos terá a chance de ter um outro emprego com tudo que ele aprendeu quando for demitido.

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    2. Queria as respostas das atividades

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  3. fode gostoso comigo mas tem que ser no sigilo

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  4. Oi seus gambás kkkkk 🤣 boiei olha seu Aki ó ooooo9oo vamo boiaaaaaaa lelê oooooo lelê ooooooo lelê 9oo kkkkkk🤣🧨 Aki e TNT seus alface 🤣🧨🧨🧨🧨🧨🧨💣💣💣💣🤭🤭😆😆👍 chupa meu 🍯🍯🍯🍯🍯🍯 uuuuuuuuuuuuu

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