quarta-feira, 1 de agosto de 2018

Meu primeiro tropeço

Eu culpo minha corcunda,
me debrucei
demais sobre você,
esse foi meu primeiro
tropeço.
E ao embalo do seu colo,
notei logo tudo encavalar-se.
Fui seu contrapeso
de gangorra,
seu cavalo-de-balanço
capenga.
Eu corria as mãos
por suas ancas
fortes e moças
e sentia já nas minhas
os sintomas
do engessamento.
Você dançava
e eu me descadeirava,
eu expectorava
e o seu peito subia e descia
calmo. Escute o meu: range
feito roda de carroça.
E quando seus olhos
vagavam para fora
da janela, era
como se eu
fosse defenestrado.
Já era ele
este outro
que você buscava
longe, fora da sala
onde meu corpo
estava tão
ao seu alcance?
Em que momento
um eu
que era um
passa a ser só outro,
outro só?
Ricardo Domeneck

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