Era de doidos a
festa, amigo? Era de bêbedos? Fizeste muito bem em enlouquecer e
embebedar-te também. Ficaste otimamente pondo a máscara de papel
pintado sobre a máscara moral com que cobres eternamente o rosto,
meu pérfido! Ser bobo é chic, está na moda!
E, como gostas
dela, foste bobo também! Que pândego que te achei, envolvido em
panos encarnados, arrotando vinho! Que bem que fizeste abandonando a
gravidade da vida! Quem é que quer ser sério no Carnaval? Há lá
seriedade nisso! E ainda que quisesses exibir alguma, pensas que Baco
consentiria? Passarias por idiota se procedesses assim...
Bateu-te à porta a
orgia e, com a sedução das bacantes, caíste-lhes bêbedo aos
braços, tratante! Melhor não poderias ter feito. Se o vinho é
deus, se o vinho impera, era mister que te entregasses de corpo e
alma ao seu domínio! Beber! Transportar-se de um trago às paragens
encantadas do prazer... Que delícia!
E, depois de todas
essas loucuras, depois de tantas noites a braços com o vício, ir,
genuflexo e piedoso, receber na testa a cruz de cinza!
Que contraste! E
que é a vida, afinal, senão uma intérmina sucessão de contrastes?
Graciliano
Ramos, in Garranchos
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