segunda-feira, 6 de agosto de 2018

Cena carioca - II

No meio das barracas tem a moça morta. Podem apostar que, à exceção de um ou outro parente, vamos esquecer esse acontecimento na vida de nossas retinas tão fatigadas. Não temos, é pena, a memória do poeta.
Ridículo transformar o pivete Maguinho, que nada tem de seu, a não ser o calção e o revólver, num Al Capone de Xou da Xuxa, num micro Cara-de-Cavalo, num pequeno Ministro da Indústria e Comércio.
Quem armou o garoto? Mãos semelhantes às das pessoas, justamente indignadas ou não, que pensam em subir o morro e dar porrada. Mais porrada? E o que, depois? Arame farpado, holofotes, quem sabe os fornos?
Não falei em pastores alemães porque já temos os nossos, latindo e vendendo candidaturas com a Bíblia na mão.
A África do Sul é aqui.
O verão tem chegado assim: corpos rolando na enxurrada, mestres-salas assassinados nos ensaios, barcos afundando enquanto comodoros comodistas não largam a taça pra prestar socorro, mortes na praia...
O Haiti é aqui.
Pra quem viver: verão. Gostaríamos que a alegria reinasse. Qual é a saída? Votar no Bozo?
No meio das barracas tem a moça morta.
Aldir Blanc, in Brasil passado a sujo

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