Ao nascer eu não
estava acordado, de forma que
não vi a hora.
Isso faz tempo.
Foi na beira de um
rio.
Depois eu já morri
14 vezes.
Só falta a última.
Escrevi 14 livros
E deles estou
livrado.
São todos
repetições do primeiro.
(Posso fingir de
outros, mas não posso fugir de mim.)
Já plantei dezoito
árvores, mas pode que só quatro.
Em pensamento e
palavras namorei noventa moças,
mas pode que nove.
Produzi desobjetos,
35, mas pode que onze.
Cito os mais
bolinados: um alicate cremoso, um
abridor de
amanhecer, uma fivela de prender silêncios,
um prego que
farfalha, um parafuso de veludo etc etc.
Tenho uma
confissão: noventa por cento do que
escrevo é
invenção; só dez por cento que é mentira.
Quero morrer no
barranco de um rio: — sem moscas
na boca descampada!
Manoel de Barros
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