Em
algum ponto deve estar havendo um erro: é que ao escrever, por mais
que me expresse, tenho a sensação de nunca na verdade ter-me
expressado. A tal ponto isso me desola que me parece, agora, ter
passado a me concentrar mais em querer me expressar do que na
expressão ela mesma. Sei que é uma mania muito passageira. Mas, de
qualquer forma, tentarei o seguinte: uma espécie de silêncio. Mesmo
continuando a escrever, usarei o silêncio. E, se houver o que se
chama de expressão, que se exale do que sou. Não vai mais ser: “Eu
me exprimo, logo sou”. Será: “Eu sou, logo sou”.
Clarice
Lispector,
in A
descoberta do mundo
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