Da
mais alta janela da minha casa
Com
um lenço branco digo adeus
Aos
meus versos que partem para a Humanidade.
E
não estou alegre nem triste.
Esse
é o destino dos versos.
Escrevi-os
e devo mostrá-los a todos
Porque
não posso fazer o contrário
Como
a flor não pode esconder a cor,
Nem
o rio esconder que corre,
Nem
a árvore esconder que dá fruto.
Ei-los
que vão já longe como que na diligência
E
eu sem querer sinto pena
Como
uma dor no corpo.
Quem
sabe quem os terá?
Quem
sabe a que mãos irão?
Flor,
colheu-me o meu destino para os olhos.
Árvore,
arrancaram-me os frutos para as bocas.
Rio,
o destino da minha água era não ficar em mim.
Submeto-me
e sinto-me quase alegre,
Quase
alegre como quem se cansa de estar triste.
Ide,
ide de mim!
Passa
a árvore e fica dispersa pela Natureza.
Murcha
a flor e o seu pó dura sempre.
Corre
o rio e entra no mar e a sua água é sempre a que foi sua.
Passo
e fico, como o Universo.
Alberto
Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa
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