Ler
pelo não, quem dera!
Em
cada ausência, sentir o cheiro forte
do
corpo que se foi,
a
coisa que se espera.
Ler
pelo não, além da letra,
ver,
em cada rima vera, a prima pedra,
onde
a forma perdida
procura
seus etcéteras.
Desler,
tresler, contraler,
enlear-se
nos ritmos da matéria,
no
fora, ver o dentro e, no dentro, o fora,
navegar
em direção às Índias
e
descobrir a América.
Adeus,
coisas que nunca tive,
dívidas
externas, vaidades terrenas,
lupas
de detetive, adeus.
Adeus,
plenitudes inesperadas,
sustos,
ímpetos e espetáculos, adeus.
Adeus,
que lá se vão meus ais.
Um
dia, quem sabe, sejam seus,
como
um dia foram dos meus pais.
Adeus,
mamãe, adeus, papai, adeus,
adeus,
meus filhos, quem sabe um dia
todos
os filhos serão meus.
Adeus,
mundo cruel, fábula de papel,
sopro
de vento, torre de babel,
adeus,
coisas ao léu, adeus.
Paulo
Leminski
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