As
goiabas... Ah! As goiabas... Ficam vendendo goiabas em caixa nos
semáforos. Sou doido por goiabas e por isso não compro as goiabas
que eles vendem. Porque aquelas frutas que estão vendendo não são
goiabas. Acho que foram inventadas pelos japoneses, que são
extraordinários pelo seu poder de mudar as coisas. Por que as
inventaram? Não porque amassem as goiabas. Mas porque queriam ganhar
dinheiro com as goiabas. Goiaba que é goiaba não se presta pra
ganhar dinheiro. Goiaba de verdade é mole, não resiste ao
transporte. Deteriora-se rapidamente, não se presta a ser guardada.
É habitada por bichos brancos, que dão testemunho do seu gosto
delicioso. Comprem uma dessas goiabas de semáforo. Tentem sentir o
seu perfume. Não têm. Mordam e sintam como são duras. E vejam se
há algum bicho lá dentro. Não tem. Por quê? Porque as goiabas são
melhores? Não. Porque não têm gosto. Até os bichos sabem que
aquilo não é goiaba. Eu me lembro... A gente viajava de jardineira.
Abarrotada. O dono recebia o dinheiro das passagens e fazia fiado pra
quem não tinha dinheiro. Eu me lembro, uma vez... A jardineira
entrou num trecho da estrada de terra que passava por um enorme
goiabal de goiabeiras nativas, carregadas de goiabas amarelas. Ele
deu uma ordem para o motorista. O motorista parou a jardineira. E
então ouviu-se o seu grito dirigido aos passageiros: “Pessoal,
todo mundo catando goiaba...”. Todo mundo desceu e foi uma
felicidade. Tão grande que não me esqueci. Lembro-me da manhã
ensolarada, do campo verde, do perfume das goiabas e da alegria dos
passageiros, transformados em crianças. Sentido da vida? É catar
goiaba madura, bichada, doce, em manhã ensolarada…
Rubem
Alves, in Ostra feliz não faz pérola
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