sábado, 14 de janeiro de 2017

Goiabas

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As goiabas... Ah! As goiabas... Ficam vendendo goiabas em caixa nos semáforos. Sou doido por goiabas e por isso não compro as goiabas que eles vendem. Porque aquelas frutas que estão vendendo não são goiabas. Acho que foram inventadas pelos japoneses, que são extraordinários pelo seu poder de mudar as coisas. Por que as inventaram? Não porque amassem as goiabas. Mas porque queriam ganhar dinheiro com as goiabas. Goiaba que é goiaba não se presta pra ganhar dinheiro. Goiaba de verdade é mole, não resiste ao transporte. Deteriora-se rapidamente, não se presta a ser guardada. É habitada por bichos brancos, que dão testemunho do seu gosto delicioso. Comprem uma dessas goiabas de semáforo. Tentem sentir o seu perfume. Não têm. Mordam e sintam como são duras. E vejam se há algum bicho lá dentro. Não tem. Por quê? Porque as goiabas são melhores? Não. Porque não têm gosto. Até os bichos sabem que aquilo não é goiaba. Eu me lembro... A gente viajava de jardineira. Abarrotada. O dono recebia o dinheiro das passagens e fazia fiado pra quem não tinha dinheiro. Eu me lembro, uma vez... A jardineira entrou num trecho da estrada de terra que passava por um enorme goiabal de goiabeiras nativas, carregadas de goiabas amarelas. Ele deu uma ordem para o motorista. O motorista parou a jardineira. E então ouviu-se o seu grito dirigido aos passageiros: “Pessoal, todo mundo catando goiaba...”. Todo mundo desceu e foi uma felicidade. Tão grande que não me esqueci. Lembro-me da manhã ensolarada, do campo verde, do perfume das goiabas e da alegria dos passageiros, transformados em crianças. Sentido da vida? É catar goiaba madura, bichada, doce, em manhã ensolarada…
Rubem Alves, in Ostra feliz não faz pérola

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