Pesa
dentro de mim
o
idioma que não fiz,
aquela
língua sem fim
feita
de ais e de aquis.
Era
uma língua bonita,
música,
mais que palavra,
alguma
coisa de hitita,
praia
do mar de Java.
Um
idioma perfeito,
quase
não tinha objeto.
Pronomes
do caso reto,
nunca
acabavam sujeitos.
Tudo
era seu múltiplo,
verbo,
triplo, prolixo.
Gritos
eram os únicos.
O
resto ia pro lixo.
Dois
leos em cada pardo,
dois
saltos em cada pulo,
eu
que só via a metade,
silêncio,
está tudo duplo.
Paulo
Leminski
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