“Aqui tens o que posso dizer-te
constantemente, a matéria que poderei estar sempre a debater, pois ambos vemos
à nossa roda inúmeros milhares de pessoas inquietas que, a fim de obterem algo
de altamente nocivo, andam com perseverança a praticar o mal, sempre à procura
de coisas que logo a seguir deixam de lhes interessar, ou mesmo as enchem de
repulsa! Já viste alguém contentar-se com uma coisa que, antes de obtê-la, lhe
parecia mais que suficiente? A felicidade, ao contrário da opinião corrente,
não é ambiciosa, mas sim modesta, e por isso mesmo nunca sacia ninguém. Tu
pensas que aquilo que satisfaz o vulgo é elevado porque ainda estás longe da
perfeição estoica; para quem a alcançou, tudo isso é absolutamente rasteiro!
Minto: para quem começou a subir até esse nível, pois o ponto que tu pensas ser
já o mais alto não passa de um degrau. Toda a gente é infelizmente confundida
pela ignorância da verdade. Enganada pela opinião vulgar, procura como se
fossem bens certas coisas que, depois de muito penar para consegui-las,
verifica serem nocivas, inúteis ou inferiores ao que esperava. A maior parte
das pessoas sente admiração por coisas que só ao fim de algum tempo se revelam
ilusórias; e assim é que o vulgo toma por bom o que apenas parece grande.”
Sêneca, in Cartas
a Lucílio
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