quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Não se mate

Carlos, sossegue, o amor
é isso que você está vendo:
hoje beija, amanh
ã não beija,
depois de amanh
ã é domingo
e segunda-feira ningu
ém sabe
o que ser
á.

Inútil você resistir
ou mesmo suicidar-se.
N
ão se mate, oh não se mate,
reserve-se todo para
as bodas que ningu
ém sabe
quando vir
ão,
se
é que virão.

O amor, Carlos, você telúrico,
a noite passou em voc
ê,
e os recalques se sublimando,
l
á dentro um barulho inefável,
rezas,
vitrolas,
santos que se persignam,
an
úncios do melhor sabão,
barulho que ningu
ém sabe
de qu
ê, praquê.

Entretanto você caminha
melanc
ólico e vertical.
Voc
ê é a palmeira, você é o grito
que ningu
ém ouviu no teatro
e as luzes todas se apagam.
O amor no escuro, n
ão, no claro,
é sempre triste, meu filho, Carlos,
mas n
ão diga nada a ninguém,
ningu
ém sabe nem saberá.
Carlos Drummond de Andrade

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