quarta-feira, 19 de junho de 2024

O palpite de Exu


Seu Djalma de Lalu, pai de santo iniciado pelo famoso sacerdote Tata Fomotinho, tinha terreiro aberto na rua Manoel Reis, em Nilópolis. Exu Lalu, de vez em quando, dava um palpite em sonho a Djalma e o homem ganhava uns trocados no jogo do bicho. Um dia, lá pela década de 1970, Exu avisou para seu filho jogar tudo num milhar do macaco: grupo 17, dezenas 65, 66, 67, 68. Seu Djalma nem pestanejou: raspou a caderneta de poupança e foi de Nilópolis a Nova Iguaçu apostando na dica.
Não deu outra. Macaco na cabeça!
O homem quebrou as bancas. Na encolha, os mais velhos contam que a cúpula do jogo do bicho teria se reunido para discutir o caso. Se Lalu começasse a mandar palpites fortes toda hora para seu Djalma, danou-se.
Com o dinheiro que ganhou, seu Djalma comprou um terreno enorme e ergueu, na rua Batista Neves, o terreiro do Kwe Ceji Lonã. Ainda construiu uma vila de casas para macumbeiros, a Vila São Lalu, e adquiriu outros imóveis na área. A vila está lá até hoje.
Seu Djalma virou o terror dos bicheiros. Era o homem sair de casa para apostar e já vinha gente o seguindo, achando que Lalu ia dar mais um milhar para ele. E dizem que dava mesmo; ao menos um palpite quente por ano.
A cúpula do jogo do bicho baixou uma ordem expressa: no campo espiritual, um tremendo agrado foi feito a Exu. Coisa de parar o Mercadão de Madureira. No campo material, todas as apostas de seu Djalma passaram a ser cotadas na Baixada Fluminense.
Moral da fábula: na maciota, manda quem pode e obedece quem tem juízo.

Luiz Antonio Simas, em Crônicas exusíacas e estilhaços pelintras

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