quinta-feira, 28 de março de 2024

Viagem de Américo Facó

Sombra mantuana, o poeta se encaminha
ao inframundo deserto, onde a corola
noturna desenrola seu mistério
fatal mas transcendente: àqueles paços

tecidos de pavor e argila cândida,
onde o amor se completa, despojado
da cinza dos contatos. Desta margem,
diviso, que se esfuma, a esquiva barca,

e aceno-lhe: Gentil, gentil espírito,
sereno quanto forte, que me ensinas
a arte de bem morrer, fonte de vida,

uniste o raro ao raro, e compuseste
de humano desacorde, isento, puro,
teu cântico sensual, flauta e celeste.

Carlos Drummond de Andrade, in Fazendeiro do ar

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