quinta-feira, 18 de agosto de 2022

Balada | XVI

Tenho preguiça
pelos filhos que vão nascer.

Teremos que explicar
tanta cousa a tantos deles.
Um dia hão de me perguntar
tudo o que perguntei:
Mãe, por que não posso
ver Augusto quando quero?
Mãe, andei lendo muito esses dias
e estou quase chegando
a encontrar o que eu queria.

Inutilidade das palavras.

Tenho preguiça,
tanta preguiça
pelos filhos que vão nascer.
Dez, vinte, trinta anos
e estarão procurando alguma cousa.
Nunca se lembrarão
daqueles que já morreram
e procuraram tanto.
Vão custar (ó deuses)
a entender aqueles
que se mataram.

Os filhos que vão nascer,
coitados!
Hão de pensar que são eles
os destinados.
Hão de pensar que você
nunca passou o que eles estão passando.

Os filhos que vão nascer...

Insatisfeitos.
Incompreendidos.

Hilda Hilst, in Baladas

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