quinta-feira, 18 de agosto de 2022

Aja!

Pela manhã, quando se levantar indisposto, diga-se: “Estou me levantando para realizar o trabalho de um ser humano. Por que estou insatisfeito se realizarei as tarefas para as quais existo e pelas quais vim ao mundo? Ou será que fui feito para ficar na cama, enrolado em cobertores, e me manter aquecido?”
Mas ficar deitado é mais prazeroso.”
Então você existe para gozar dos prazeres e não para agir e se esforçar? Não vê as plantas, os pássaros, as formigas, as aranhas e as abelhas trabalhando juntas para dispor seus papéis no cosmos? Ainda assim reluta em trabalhar como um ser humano e não se apressa para se conduzir em conformidade com a sua natureza?
Mas o repouso também é necessário.”
De fato. Porém, a natureza estabeleceu limites para o descanso, bem como para a comida e a bebida. Não obstante, você os extrapola e vai além do que é suficiente. Em contrapartida, seus atos ficam aquém das suas limitações.
Você não se ama, senão abraçaria sua natureza e as vontades dela. Aqueles que amam suas artes labutam até a exaustão, sem alimento ou banho. Contudo, você dá menos valor à sua natureza do que o torneiro à arte de tornear, o dançarino à dança, o sovina ao dinheiro ou o vanglorioso à ínfima glória. Tais homens, quando apegados violentamente a algo, preferem não comer ou dormir a não aperfeiçoar aquilo com o que se importam. Na sua perspectiva, ações que concernem à sociedade são mais vis e menos dignas de seu trabalho?

Marco Aurélio, in Meditações

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