terça-feira, 31 de maio de 2022

Copacabana | Braguinha e Alberto Ribeiro, 1946


Muito antes de Tom e Vinicius apresentarem a vizinha Ipanema ao mundo, Braguinha (ou João de Barro) e Alberto Ribeiro (1902-1971) criaram este hino de louvor para a “Princesinha do Mar”. Lançado em disco por Dick Farney, em 1946, com arranjo para orquestra de Radamés Gnattali, “Copacabana” era um samba diferente, moderno para a época, ganhando um tratamento sofisticado, que, somado ao canto cool de Farney, em muitos aspectos antecipou a estética minimalista da bossa nova.
O grande sucesso, dominando as paradas brasileiras por mais de um ano, veio acompanhado de acusações de plágio. A melodia do samba-canção lembra vagamente o início de “I’ll remember April” (Gene de Paul, Patricia Johnston e Don Raye), lançada na trilha sonora de um filme de 1942 da dupla de comediantes Abbott & Costello, Ride ‘em Cowboy (que no Brasil ganhou o título de Cavaleiros da galhofa). Braguinha não seria estúpido de “plagiary” logo um popularíssimo standard americano. Coincidência ou não, “Copacabana” foi escrita em 1944, para um musical que não chegou a ser montado, e teve como ponto de partida outra composição da dupla Braguinha e Ribeiro. É um samba curto, com apenas 12 versos que exaltam as belezas da praia carioca: “Nenhuma tem o encanto / que tu possuis.”
O impacto inicial de “Copacabana” deve ser creditado também à interpretação magistral do pianista e cantor Dick Farney (1921-1987). Nascido no Rio de Janeiro como Farnésio Dutra e Silva, ele teve formação clássica e era apaixonado pelo jazz. Até gravar este samba-canção, após muita insistência de Braguinha, Farney só cantava em inglês. Entre os anos de 1947 e 1948, ele chegou a viver e trabalhar nos Estados Unidos, onde, entre outros compromissos, foi contratado como cantor fixo no programa de rádio do comediante Milton Berle. Com os sucessos de “Copacabana” e “Marina” (esta de Dorival Caymmi), que ele tinha gravado para a Continental antes de se radicar nos EUA, Farney voltou ao Brasil, ajudando a plantar as sementes da bossa nova.

Nelson Motta, in 101 canções que tocaram o Brasil

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