sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

Pó, eis tudo

Vejo tantas razões para recusar um sentido à vida, que seria vão enumerá-las: o desespero, o infinito e a morte são apenas as mais evidentes. Mas muitos razões íntimas nos levam a negar, tanto quanto as anteriores, todo o sentido da vida... Face à existência, o verdadeiro e o falso não contam mais, mas somente nossa reação pessoal. Subjetivismo, será dito. Que importa? A experiência subjetiva não nos eleva ao plano da universalidade, como o instante ao plano da eternidade? Os homens experimentam tão pouco a solidão! Tudo aquilo que tem origem nela é prontamente decretado estéril: os homens não se ligam a nada mais do que aos valores sociais, afetados como o são pela ilusão de terem colaborado com eles. Cada um quer fazer alguma coisa e sobreviver em suas realizações. Como se elas não fossem também ser reduzidas ao pó!

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Estou descontente de tudo. Mesmo se fosse eleito Deus, apresentaria dentro em logo minha demissão; se o mundo se reduzisse em mim, se o mundo inteiro fosse eu, quebrar-me-ia em mil pedaços e voaria em cacos. Como posso ainda conhecer momentos em que eu tenha a impressão de tudo compreender?
Emil Cioran, in Nos cumes do desespero

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