Vejo
tantas razões para recusar um sentido à vida, que seria vão
enumerá-las: o desespero, o infinito e a morte são apenas as mais
evidentes. Mas muitos razões íntimas nos levam a negar, tanto
quanto as anteriores, todo o sentido da vida... Face à existência,
o verdadeiro e o falso não contam mais, mas somente nossa reação
pessoal. Subjetivismo, será dito. Que importa? A experiência
subjetiva não nos eleva ao plano da universalidade, como o instante
ao plano da eternidade? Os homens experimentam tão pouco a solidão!
Tudo aquilo que tem origem nela é prontamente decretado estéril: os
homens não se ligam a nada mais do que aos valores sociais, afetados
como o são pela ilusão de terem colaborado com eles. Cada um quer
fazer alguma coisa e sobreviver em suas realizações. Como se elas
não fossem também ser reduzidas ao pó!
***
Estou
descontente de tudo. Mesmo se fosse eleito Deus, apresentaria dentro
em logo minha demissão; se o mundo se reduzisse em mim, se o mundo
inteiro fosse eu, quebrar-me-ia em mil pedaços e voaria em cacos.
Como posso ainda conhecer momentos em que eu tenha a impressão de
tudo compreender?
Emil
Cioran, in Nos cumes do desespero
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