Mais que amor,
dinheiro e fama, dai-me a verdade. Sentei-me a uma mesa onde a comida
era fina, os vinhos abundantes e o serviço impecável, mas onde
faltavam sinceridade e verdade, e com fome fui-me embora do inóspito
recinto. A hospitalidade era fria como os sorvetes. Pensei que nem
havia necessidade de gelo para conservá-los. Gabaram-me a idade do
vinho e a fama da safra, mas eu pensava num vinho muito mais velho,
mais novo e mais puro, de uma safra mais gloriosa, que eles não
tinham e nem sequer podiam comprar.
O estilo, a casa
com o terreno em volta e o “entretenimento” não representam nada
para mim. Visitei o rei, mas ele deixou-me à espera no vestíbulo,
comportando-se como um homem incapaz de hospitalidade. Na minha
vizinhança havia um homem que morava no oco de uma árvore e cujas
maneiras eram régias. Teria feito bem melhor visitando-o a ele.
Até quando nos
sentaremos nós nos nossos alpendres a praticar virtudes ociosas e
bolorentas, que qualquer trabalho tornaria descabidas? É como se
alguém começasse o dia com paciência, contratasse alguém para lhe
sachar as batatas, e de tarde saísse para praticar a mansidão e a
caridade cristãs com bondade premeditada!
Henry David
Thoreau, in Walden
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