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Foi
um dia bom no hipódromo, quase forrei o bolso.
Mas
é chato aqui, mesmo quando você está ganhando. Tem os 30 minutos
entre os páreos, sua vida escorrendo para o espaço. As pessoas têm
uma aparência cinzenta, gasta. E aqui estou com elas. Mas aonde mais
poderia ir? A um museu de arte? Imaginem passar o dia inteiro em casa
e brincar de escritor. Poderia usar um lencinho branco. Lembro de um
poeta que costuma aparecer nas festas. Faltavam botões na camisa, as
calças manchadas de vômito, cabelos nos olhos, sapatos
desamarrados, mas usava uma longa echarpe que mantinha sempre bem
limpa. Aquilo indicava que ele era um poeta. Sua obra? Esqueça...
Cheguei,
nadei na piscina, e depois fui ao spa. Minha alma está a perigo.
Sempre esteve.
Estava
sentado no sofá com Linda, uma boa e escura noite chegando, quando
bateram na porta. Linda abriu.
“É
melhor você vir aqui, Hank...”
Fui
até a porta, de pés descalços e roupão. Um cara loiro e jovem,
uma moça gorda e uma garota de tamanho médio.
“Eles
querem o seu autógrafo...”
“Eu
não recebo pessoas”, disse a eles.
“Nós
só queremos o seu autógrafo”, disse o loiro, “prometemos não
voltar nunca mais.”
Então
começou a dar risadinhas e segurar a cabeça. As garotas só ficaram
olhando.
“Mas
nenhum de vocês tem caneta, nem mesmo um pedaço de papel”, disse
eu.
“Ah”,
disse o garoto loiro, tirando as mãos da cabeça. “Voltaremos de
novo com um livro! Talvez numa hora mais adequada...”
O
roupão. Os pés descalços. Talvez o garoto achasse que eu era
excêntrico. Talvez eu fosse.
“Não
venham de manhã”, disse a eles.
Vi
eles se afastarem e fechei a porta...
Agora
estou aqui escrevendo sobre eles. A gente tem que ser um pouco duro,
se não eles ficam aporrinhando. Tive algumas experiências terríveis
abrindo aquela porta. Muitos que acham que, de alguma forma, você
vai convidá-los para entrar e para beber a noite toda. Prefiro beber
sozinho. Um escritor não deve nada, exceto ao seu texto. Ele não
deve nada para o leitor, exceto a disponibilidade da página
impressa. E, pior, muitos dos que batem à porta não são nem
leitores. Só ouviram falar alguma coisa. O melhor leitor e a melhor
pessoa são os que me recompensam com a sua ausência.
Charles
Bukowski, in O capitão saiu para o almoço e os marinheiros
tomaram conta do navio
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