Desde
o começo do mundo água e chão se amam
e
se entram amorosamente
e
se fecundam.
Nascem
peixes para habitar os rios.
E
nascem pássaros para habitar as árvores.
As
águas ainda ajudam na formação dos caracóis e das
suas
lesmas.
As
águas são a epifania da criação.
Agora
eu penso nas águas do Pantanal.
Penso
nos rios infantis que ainda procuram declives
para
escorrer.
Porque
as águas deste lugar ainda são espraiadas para alegria
das
garças.
Estes
pequenos corixos ainda precisam de formar
barrancos
para se comportarem em seus leitos.
Penso
com humildade que fui convidado para o
banquete
dessas águas.
Porque
sou de bugre.
Porque
sou de brejo.
Acho
agora que estas águas que bem conhecem a
inocência
de seus pássaros e de suas árvores.
Que
elas pertencem também de nossas origens.
Louvo
portanto esta fonte de todos os seres e de todas
as
plantas.
Vez
que todos somos devedores destas águas.
Louvo
ainda as vozes dos habitantes deste lugar que
trazem
para nós, na umidez de suas palavras, a boa
inocência
de nossas origens.
Manoel
de Barros
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