terça-feira, 29 de abril de 2014

Deus é o Incriado 
é o tudo e o nada
 
o presente e o ausente
 
o respirado
 
e o expirado,
 
é a primeira imagem
 
e a última imagem
 
tocando-se num tempo
 
sem tempo; 
 
é anterior 
 
a todas as imagens,
 
é o que não teve espelho
 
é o que não se vestiu
 
e se vestiu de tudo
 
de água de ar de pó,
 
é o que manipulou
 
o pó e a brasa ardendo
 
ciclo perfeito, o anel.

É o brilho, a matéria 
o símbolo do anel
 
é o invisível dedo
 
da aliança, o espírito
 
do vinho, violeta
 
violáceo rá.

Deus é o que há 
sem ter sido, no entanto
 
inacabado sendo
 
o que não evolui,
 
é o santo
 
o címbalo
 
o fumo
 
o absinto
 
o abismo
 
o projeto
 
do amor
 
mais que perfeito.
 
É o último 
 
teto
 
do inimaginável. 
 
É a algema,
 
a asa livre:
 
é a Imagem.
 
 
Apago a luz e penso: 
mais uma vez apago a luz,
 
e respiro para me sentir respirando
 
com cautela e pasmo.

Hoje vi retratos de meus mortos, 
sorriem em praças e paisagens
 
inatuais.

E eu aqui, ainda vivo, 
como? por que? até quando?
 
Cada trilha me inspira
 
a despedida,
 
e eu me vejo ao lado dos mortos
 
e eles não me veem
 
na névoa dos retratos.

Quem me esqueceu neste lado?
Walmir Ayala

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