Guardar
uma coisa não é escondê-la ou trancá-la. Em cofre não
se
guarda coisa alguma. Em cofre perde-se a coisa à vista.
Guardar
uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por admirá-la, isto
é,
iluminá-la ou ser por ela iluminado.
Por
isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica, por isso se
declara
e declama um poema:
Para
guardá-lo:
Para
que ele, por sua vez, guarde o que guarda:
Guarde
o que quer que guarda um poema:
Guardar
uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por ela, isto é,
velar
por ela, isto é, estar acordado por ela, isto é, estar por ela
ou
ser por ela.
Por
isso melhor se guarda o voo de um pássaro
Do
que pássaros sem voos.
Por
isso o lance do poema:
Por
guardar-se o que se quer guardar.
Antonio Cícero, em Antologia Poética
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