quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

1556 – Assunção do Paraguai

As conquistadoras

Em suas costas carregaram lenha e feridos. As mulheres trataram os homens como menininhos: lhes deram água fresca e consolo e teias de aranha para fechar as feridas. As vozes de ânimo e de alarma brotaram de suas bocas, e também as maldições que fulminaram os covardes e empurraram os frouxos. Elas dispararam as balestras e os canhões enquanto eles se arrastavam buscando sombra onde morrer. Quando chegaram aos bergantins os sobreviventes da fome e das flechas, foram as mulheres que içaram as velas e buscaram o rumo, rio acima, remando e remando sem queixas. Assim ocorreu em Buenos Aires e no rio Paraná.
Ao cabo de vinte anos, o governador Irala reparte índios e terras em Assunção do Paraguai.
Bartolomé García, que foi daqueles que chegaram nos bergantins do sul, murmura seus protestos. Irala não lhe deu mais que dezesseis índios, a ele que tem ainda afundada no braço uma ponta de flecha e soube lutar corpo a corpo com as onças que saltavam as paliçadas de Buenos Aires.
E eu? Se tu te queixas, que direi eu? – geme dona Isabel de Guevara.
Ela também esteve desde o princípio. Veio da Espanha para fundar Buenos Aires ao lado de Mendoza e ao lado de Irala subiu até Assunção. Por ser mulher, não ganhou do governador nem um índio.

Eduardo Galeano, em Os Nascimentos

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