As
conquistadoras
Em
suas costas carregaram lenha e feridos. As mulheres trataram os
homens como menininhos: lhes deram água fresca e consolo e teias de
aranha para fechar as feridas. As vozes de ânimo e de alarma
brotaram de suas bocas, e também as maldições que fulminaram os
covardes e empurraram os frouxos. Elas dispararam as balestras e os
canhões enquanto eles se arrastavam buscando sombra onde morrer.
Quando chegaram aos bergantins os sobreviventes da fome e das
flechas, foram as mulheres que içaram as velas e buscaram o rumo,
rio acima, remando e remando sem queixas. Assim ocorreu em Buenos
Aires e no rio Paraná.
Ao
cabo de vinte anos, o governador Irala reparte índios e terras em
Assunção do Paraguai.
Bartolomé
García, que foi daqueles que chegaram nos bergantins do sul, murmura
seus protestos. Irala não lhe deu mais que dezesseis índios, a ele
que tem ainda afundada no braço uma ponta de flecha e soube lutar
corpo a corpo com as onças que saltavam as paliçadas de Buenos
Aires.
– E
eu? Se tu te queixas, que direi eu? – geme dona Isabel de Guevara.
Ela
também esteve desde o princípio. Veio da Espanha para fundar Buenos
Aires ao lado de Mendoza e ao lado de Irala subiu até Assunção.
Por ser mulher, não ganhou do governador nem um índio.
Eduardo Galeano, em Os Nascimentos
Nenhum comentário:
Postar um comentário