Recebi
a sua carta da Itália mais ou menos um ano atrás (em resposta à
minha). Quero lhe agradecer por ter se lembrado de mim. Ter notícia
sua me pôs de pé um tanto.
Ainda
está publicando? Se sim, tenho algo que eu gostaria que a senhora
visse. E, se está, eu lhe peço um endereço ao qual enviá-lo: não
sei como chegar à senhora.
Estou
escrevendo de novo, um pouco. [Charles] Shattuck, da Accent,
diz que não vê chance de eu conseguir encontrar um editor para o
meu material, mas que talvez um dia o “gosto do público emparelhe
com você”. Cristo.
A
senhora me mandou um panfleto ou maço ou algo em italiano ano
passado na sua carta. Cometeu o equívoco de me considerar um homem
culto: não consegui lê-lo. Não sou nem mesmo um artista de verdade
– sei que sou alguma espécie de farsante – escrevo meio que das
entranhas da repugnância, quase inteiramente. Contudo, ao ver o que
os outros estão fazendo, vou em frente. O que mais se pode fazer?
[…]
Este
factótum tem outro emprego servil. Eu o detesto, mas tenho dois
pares de sapato pela primeira vez na minha vida (gosto de ir ao
hipódromo todo embonecado – interpretar o legítimo espectador
encostado nas grades). Vivo há 5 anos com uma mulher 10 anos mais
velha do que eu. Mas acabei me acostumando com ela, e me sinto
cansado demais para sair em busca ou romper.
Por
favor me informe o seu endereço editorial caso ainda esteja
publicando, e obrigado de novo por ser bondosa o bastante para se
lembrar de mim e escrever.
Charles Bukowski, em Escrever para não enlouquecer
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