Sobre
o canibalismo na América
Desde
que Francisco Pizarro assistiu, de luto, ao enterro de sua vítima, o
imperador Atahualpa, vários homens sucederam-se no mando e poder do
vasto reino que foi dos incas.
Diego
de Almagro, governador de uma parte, alçou-se contra Francisco
Pizarro, governador da outra. Ambos tinham jurado, frente à hóstia
consagrada, que dividiriam honras, índios e terras sem que
ninguém leve mais, mas Pizarro avançou e venceu e Almagro foi
degolado.
O
filho de Almagro vingou seu pai e proclamou-se governador sobre o
cadáver de Pizarro. Depois o filho de Almagro foi enviado ao
patíbulo por Cristóbal Vaca de Castro, que passou à história por
ser o único que se salvou da forca, do machado e da espada.
Depois
ergueu-se em armas Gonzalo Pizarro, irmão de Francisco, contra
Blasco Núfiez Vela, primeiro vice-rei do Peru. Nufiez Vela caiu,
fulminado, de seu cavalo. Cortaram-lhe a cabeça, que foi cravada num
poste.
A
ponto esteve Gonzalo Pizarro de coroar-se rei. Hoje, segunda-feira 9
de abril, sobe a ladeira que conduz ao degoladeiro. Marcha montado em
uma mula. Ataram-lhe as mãos às costas e atiraram sobre ele uma
capa negra, que cobre sua cara e impede que ele veja a cabeça sem
corpo de Francisco de Carvajal.
Eduardo Galeano, em Os Nascimentos
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