sábado, 2 de novembro de 2024

Orapronobis (Tira-teima da cidadezinha de Tiradentes)

Café coado.
Cafungo minha dose diária de MURILO e DRUMMOND.
Lápis de ponta fina.
Lá detrás daquela serra
Estamparam um desenho de TARSILA na paisagem.
Menino que pega ovo no ninho de seriema.
Pessoas sentadas nos bancos de calcário
Dão a vida por um dedo de prosa.
Cada vereador deposita na mesa da câmara
A grosa de pássaros-pretos que conseguiu matar
Árdua labuta pra hoje em dia
Pois quase já não há
Pássaros-pretos no lugar.
De tarde gritaria das maritacas
Encobre o piano arpejando o Noturno de CHOPIN.
Bêbado escornado no banco da praça.
Orlando Curió cisma um rabo de sereia do mar debuxado no lombo do seu cavalo.
A meia-lua
E a estrela preta
De oito pontas
Do teto da igreja
Do Rosário dos Pretos.
Que luz desponta
Da meia-lua
E que centelha
Da estrela preta de oito pontas
Do teto
Da igreja do Rosário dos Pretos?
Pra quem aponta
A luz da meia-lua
E pra quem cintila
Preta de oito pontas
A estrela desenhada no teto
Da igreja do Rosário dos Pretos?

Waly Salomão, em Antologia poética

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