segunda-feira, 25 de novembro de 2024

A leste do Éden | 4




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Charles estava de pé diante do bar na estalagem do vilarejo e Charles ria deliciado das histórias engraçadas que os caixeiros-viajantes perdidos na noite contavam. Puxou sua bolsa de tabaco com o magro tilintar de moedas de prata e pagou um trago aos homens para que continuassem falando. Sorria e esfregava as juntas dos dedos rachadas. E quando os caixeiros, aceitando sua bebida, ergueram os copos e disseram “Um brinde a você”, Charles ficou deleitado. Pediu outra rodada para os novos amigos e juntou-se a eles para continuar a algazarra em outro local.
Quando Cyrus saiu mancando noite adentro, estava tomado por uma espécie de raiva desesperada contra Charles. Procurou o filho na estrada e foi até a estalagem atrás dele, mas Charles já tinha saído. É provável que se o encontrasse naquela noite o tivesse matado, ou tentado. O rumo de uma grande ação pode mudar a história, mas provavelmente todas as ações produzem o mesmo à sua maneira, desde uma pedra pisada no caminho até a visão de uma bela jovem ou de uma apara de unha no chão do jardim.
Naturalmente, não demorou para que contassem a Charles que seu pai andava à sua procura com uma espingarda. Escondeu-se por duas semanas e quando finalmente voltou o assassinato havia definhado em simples raiva e pagou sua pena com excesso de trabalho e uma falsa humildade teatral.
Adam ficou quatro dias de cama, tão rígido e dolorido que não podia se mexer sem um gemido. No terceiro dia, seu pai deu prova da sua influência junto aos militares. Fez aquilo como um cataplasma para o seu próprio orgulho e também como uma espécie de prêmio para Adam. Um capitão da cavalaria e dois sargentos em farda azul de gala entraram pela casa e foram até o quarto de Adam. No pátio dianteiro, dois praças seguravam seus cavalos. Deitado na cama, Adam foi alistado no Exército como soldado da cavalaria. Assinou os Artigos de Guerra e prestou o juramento enquanto seu pai e Alice assistiam. E os olhos do pai reluziam com lágrimas.
Depois que os soldados se foram, seu pai ficou sentado com ele um longo tempo.
Coloquei-o na cavalaria por um motivo — disse. — A vida de quartel não é uma boa vida por muito tempo. Mas na cavalaria sempre há o que fazer. Certifiquei-me disso. Você vai gostar de ir para a terra dos índios. Tem ação a caminho. Não posso lhe dizer como sei. Vem luta por aí.
Sim, senhor — disse Adam.

John Steinbeck, em A leste do Éden

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